Desde que nascemos, muitas coisas nos são ensinadas como verdades
absolutas. Todos os meios de comunicação participam
ativamente - televisão, cinema, teatro, literatura, rádio
-, sem contar a família, a escola, os vizinhos. O condicionamento
é tão forte que crescemos sem perceber que aprendemos
a pensar assim ou a desejar uma ou outra coisa. Isso ocorre em todas
as áreas, portanto, também no que diz respeito ao amor.
As regras sobre o que é amar ou ser amado por alguém
são muitas. Se você sentir isso, não é
amor. Agora, se sentir aquilo, aí sim, é amor. Às
vezes escutamos alguém dizer: "Se estiver me relacionando
com uma pessoa e sentir desejo por outra, é porque, então,
não a amo." Ou "Quem ama quer ficar o tempo todo
ao lado da pessoa amada, nada mais lhe interessa." Felizmente
nada disso é verdade.
No entanto, essas afirmações há muito são
repetidas sem ser contestadas. E não é sem razão.
Em primeiro lugar o ser humano parece não desenvolver muito
sua capacidade de pensar e só repete. É mais fácil.
Depois, as pessoas acreditam que ficar sem alguém ao lado para
se protegerem é uma tragédia. Dessa forma, tratam de
se convencer e ao parceiro de que as coisas são desse jeito
mesmo, achando que assim evitam correr riscos. E vão limitando
a própria vida e a do outro. É possível amar
duas pessoas ao mesmo tempo? Sem dúvida, é possível
amar bem mais de duas. Acontece até com freqüência,
mas ninguém quer aceitar para si mesmo. Afinal, fugir dos modelos
impostos gera ansiedade, o desconhecido apavora. Então, surge
aquela desculpa esfarrapada: "É possível amar duas
pessoas, mas não do mesmo jeito." É exatamente
o que ocorre com a fidelidade. Em público todos negam, mas
praticam em particular.
É difícil se aceitar que o amor é um afeto único.
Mas amor é um só. É prazer na companhia, querer
bem, participar da vida do outro, sentir saudade. Nós é
que insistimos em dividir em compartimentos, classificando os tipos
de amor: por filho, por namorado, por mãe, por amigo, por amante,
como se fossem diferentes na essência. De singular e que podem
distingui-los uns dos outros são só algumas características.
No amor pelo amigo pode não haver desejo sexual, no amor pelo
filho costuma predominar um desejo de proteção, e assim
por diante. Portanto, podemos amar mais de um, no sentido mesmo do
amor que encontramos no namoro ou casamento. Somos todos diferentes,
cada um possuindo aspectos que agradam e que se buscam num relacionamento.
Pode até ser que na fase da paixão, quando se está
encantado pelo outro, não caiba mais ninguém. Mas essa
fase dura pouco. Com uma convivência mais prolongada, a paixão
acaba e fica o amor, se houver. De qualquer modo, não parece
muita mesquinharia afetiva ter apenas um amor? Contudo, para começar
a pensar diferente da maioria é necessário alguma dose
de coragem e vontade de viver intensamente.
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